A matéria trazia um monte de dados
estatísticos e descrições metodológicas, além de um clamor geral pela
preservação ambiental dessa cidade que, não obstante chamada Rio, tem feito os
seus de privada, inclusive o Carioca, para vocês verem o ponto a que chegamos.
Mas o que me deixou mesmo embasbacado foi o título, que anunciava a
identificação de uma área de vegetação nativa na Floresta da Tijuca que
correspondia a algo como 42 mil Maracanãs.
Termino
a leitura - "42 mil Maracanãs de floresta!" - e fico ainda um bom tempo
pensando naquela associação - "Maracanã...Floresta, Floresta...
Maracanã..." -, até que na curva do pensamento esbarro com o general.
Melhor dizendo, lembro da Curva da Amendoeira e do general Ângelo Mendes de
Morais.
Explico-me:
foi sob a administração de Mendes de Morais (1947-1951), empossado por outro
general, o Eurico Gaspar Dutra, numa época em que, por ser Distrito Federal, os
prefeitos da cidade eram nomeados diretamente pelo presidente da república, que
foi construído o estádio do Maracanã para a fatídica Copa do Mundo de 1950. A realização
da obra era polêmica e entre os seus muitos opositores estava o então vereador Carlos
Lacerda, de modo que a atuação de Mendes de Morais foi decisiva para que o projeto
fosse levado adiante, e com apoio popular ainda por cima.
E
a Curva da Amendoeira? Bem, a curva ainda está lá, entre Flamengo e Botafogo,
no entroncamento da Avenida Oswaldo Cruz com a Rui Barbosa, cuidada de perto
por Cuauhtémoc, o imperador asteca cujo
corpo tombou diante das tropas de Cortez, e cuja estátua por algum milagre não teve
o mesmo fim diante das obras do Aterro do Flamengo. Mas se a curva continua, a
Amendoeira não. Foi retirada dali a mando do mesmo Mendes de Morais, o entusiasta
do Maracanã. A justificativa, se é que havia uma, eu confesso que não sei. E na
verdade tive preguiça de pesquisar. Não importa. O fato é que, se na Floresta
da Tijuca ainda há floresta, na Curva da Amendoeira já não há mais a imponente
amendoeira que lhe deu nome e identidade. E por falar nisso - assim é o Rio de
Janeiro -, perguntar não ofende: acaso ainda há Maracanã no Maracanã?